terça-feira, 8 de julho de 2008

Razões capilares

Sinto-me careca... E não o digo num sentido figurado. Sinto-me literalmente careca. Perco cabelo mais rápido que o Vale e Azevedo foge à justiça. E, por mais que o lamente, não consigo apanhá-lo de volta (o cabelo, não o outro). Por razões genéticas, o meu corpo vai perdendo paciência para se incomodar a insuflar nova vida a todas as raízes capilares que vão morrendo e não deixam outras para as substituir. E, como resultado dessa perda, vou-me sentindo cada vez mais só. Podem não acreditar mas uma cabeleira farta faz-nos mais bonitos, atraentes e acompanhados. Quanto mais não seja pelos próprios cabelos. E, à medida que os meus vão caindo, a minha solidão vai aumentando. É para eles que olho todos os dias de manhã, que os massajo e acaricio durante o banho, quando falo sozinho, quando fico preocupado, zangado ou aborrecido é a eles que recorro para o primeiro gesto de desabafo... Não me vejo a fazer esta rotina com os pêlos das costas ou os púbicos (bem, aah... com estes outras rotinas se impõem). Por isso digo que, à medida que vou ficando careca, vou-me sentindo cada vez mais só. Ando a pensar seriamente em fazer um transplante capilar, mas isso implica mudar pêlos de um sítio para outro. E, sinceramente, não me vejo com a mesma intimidade com o pêlo da nuca como o que está junto à testa. São bairros diferentes e, logo, um crescimento e experiência de vida diferentes. Podemos todos conviver mas partilhar os mesmos interesses? Duvido. Não confio muito nessa estória do multicapelarismo.

Pouco me resta a fazer. A resignação é a melhor amiga da satisfação. Ela e uma boa queca.

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